Luz Imperecível /

Parábola do Festim das Bodas

Autora: Cristiane Fioravante Reis (NEPE Nas Rotas do Cristo/FEEGO)

1Jesus voltou a falar-lhes em parábolas e disse: 2“O Reino dos Céus é semelhante a um rei que celebrou as núpcias do seu filho. 3Enviou seus servos para chamar os convidados às núpcias, mas estes não quiseram vir. 4Tornou a enviar outros servos, recomendando: ‘Dizei aos convidados: eis que preparei meu banquete, meus touros e cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde às núpcias’. 5Eles, porém, sem darem a menor atenção, foram-se, um para o seu campo, outro para seu o negócio, 6e os restantes, agarrando os servos, os maltrataram e os mataram. 7Diante disso, o rei ficou com muita raiva e, mandando as suas tropas, destruiu aqueles homicidas e incendiou-lhes a cidade. 8Em seguida, disse aos servos: “As núpcias estão prontas, mas os convidados não eram dignos. 9Ide, pois, às encruzilhadas e convidai para as núpcias todos os que encontrardes’. 10E esses servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, de modo que a sala nupcial ficou cheia de convivas. 11Quando o rei entrou para examinar os convivas, viu ali um homem sem a veste nupcial 12e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?’ Ele, porém, ficou calado. 13Então disse o rei aos que serviam: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o fora, nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes’. 14Com efeito, muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.

Mateus 22:1-14 [1]

A parábola é um método empregado no discurso, por meio do qual as verdades morais ou religiosas são ilustradas pela analogia com fatos comuns [2]. Na presente parábola, o “Festim das Bodas” simboliza o “Reino dos Céus”, isto é, o estado de plenitude alcançado mediante nossa marcha ascensional, regida pela Lei Divina do Progresso [3], rumo à luz imperecível.

O “festim” ocorre porque o “Rei”, isto é, Deus [1, 4, 5, 6, 7] decide comemorar as núpcias de seu “Filho” Jesus [1, 6, 7] com a humanidade [2]. O simbolismo das núpcias é muito profundo, reportando ao encontro do ego com o Eu Crístico, do homem com o Cristo e da alma com Deus [8].

Para comemorar esse enlace matrimonial, o “Rei” pede que seus “servos” chamem os convidados. São classificados como “servos” todos aqueles que fielmente fazem a vontade de Deus [2]. Na história da humanidade, em vários pontos do Orbe Terrestre, muitos servos ou homens de bem, se fizeram e, ainda se fazem, conhecidos por meio de palavras ou atos em prol das obras de Deus [1, 3].

Muitos são os convidados a participar das núpcias. Historicamente, os primeiros convidados podem ser entendidos como os hebreus, pois foram os primeiros a acreditar em um Deus único [4, 6, 9]. Entretanto, esses convites continuam sendo feitos a todo o momento e a toda a humanidade. As recusas às bodas são feitas por espíritos ainda fortemente ligados a uma vida puramente material (“seus campos” e “seus negócios”) e que desconhecem, momentaneamente, a existência do “Rei” e do seu “banquete” [7]. Aliás, em geral, a humanidade continua muito envolvida com as questões materiais também no momento atual do Orbe. Deste modo, constata-se que não adianta somente ser convidado, é preciso, antes, estar preparado para participar do “banquete” [8].

Em uma belíssima alegoria, o “banquete nupcial” simboliza todos os recursos que Deus provê e oferece, gratuitamente, ao processo de iluminação de todos os espíritos [7]. As iguarias materiais satisfazem e fortalecem o corpo e, de forma mais profunda, as iguarias espirituais mantêm e vivificam o Espírito [10].

Na párabola, a figura do “Rei” encolerizado não coaduna com a ideia de Deus soberanamente justo e bom [3]. Ele não se encoleriza porque não se ofende com as nossas mazelas [7]. Assim, as “cóleras” atreladas às “tropas ou exércitos” simbolizam os efeitos da “Lei de Causa e Efeito”, que podem trazer graves consequências para o Espírito, quando este age em discordância com as Leis Divinas [7].

A alegoria do incêndio é bastante marcante. Isso porque, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, o fogo traz a conatação da presença de Deus e também como elemento de purificação [2].  Neste sentido, a Doutrina Espírita nos esclarece que as provas e expiações contribuem para o aperfeiçoamento necessário do Espírito [3, 9]. Com isso, de aprimoramento em aprimoramento, de reencarnação em reencarnação, o “homem velho” vai concedendo lugar ao “homem novo”, mais consciente e pleno de seu papel como co-criador na Obra Divina [3, 9].

Para participar do “banquete” se faz necessário trajar a “túnica nupcial”. Torna-se digno de trajá-la aquele que conseguiu desenvolver virtudes, como a pureza, a mansuetude e bondade que caracterizam os verdadeiros cristãos [3, 9]. Isso quer dizer que aquele que está sem a túnica deve buscar seu aprimoramento íntimo. O silêncio do convidado sem a túnica, quando abordado pelo “Rei”, sugere a necessidade do silenciamento do passado, em prol do seu bem, quando o Espírito parte para uma nova experiência reencarnatória. Essa hipótese ganha apoio na expressão “amarrai-lhe os pés e as mãos”, simbolismo da reencarnação. As expressões “lançar às trevas exteriores” e “choro e ranger de dentes” podem ser interpretadas como as aparentes torturas morais na erraticidade (intervalo entre duas encarnações) e os sofrimentos na futura reencarnação que atuam como instrumentos didáticos de aprimoramento espiritual.

Em essência, todos os espíritos são criados simples e ignorantes, sendo destinados à perfeição, por meio de seus próprios esforços [3, 9]. Assim, o convite para participar do “festim” se encontra inscrito na consciência de todos, desde o momento da criação de cada espírito. Por isso e, a todo momento, todos os espíritos são chamados a deixar de gravitar em torno de si mesmos, ou do próprio ego, para gravitar em torno de Deus e de suas leis, como cita Paulo de Tarso na Questão 1009  da obra “O Livro dos Espíritos”. Pensemos nisso!

Referências

1.        Bíblia de Jerusalém. 3º ed. São Paulo, SP: Editora Paulus, 2011, 2206 p.

2.        DAVIS, J. D. Novo Dicionário da Bíblia: ampliado e atualizado. São Paulo, SP: Editora Hagnos, 2005.1304 p.

3.        KARDEC, A. O Livro dos Espíritos: filosofia espiritualista. 93 ed. 1 imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2013. 526p.

4.        RIGONATTI, E. O Evangelho dos Humildes – texto de São Mateus explicado à luz dos últimos ensinamentos do espiritismo. São Paulo, SP: Editora Pensamento, 2012. 271p.

5.        SAYÃO, A. L. Elucidações Evangélicas. Rio de Janeiro, RJ: FEB,1988. 526 p.

6.        CALLIGARIS, R. Parábolas Evangélicas: à luz do Espiritismo. 11º ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2010. 112p.

7.        CERQUEIRA FILHO, A. de. Parábolas terapêuticas: uma abordagem psicológica transpessoal das parábolas e outros ensinamentos de Jesus. 2º ed. Santo André, SP: EBM Editora, 2012. 305p.

8.        OLIVEIRA, N. S. Os Evangelhos em sua Natureza, Essência e Profundidade. Limeira, SP: Editora do Conhecimento, 2013. 510 p.

9.        KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 131 ed. 3. imp. (Edição Histórica). Brasília, DF: FEB, 2013. 410 p.

10.     SCHUTEL, C. Parábolas e Ensinos de Jesus. Matão, SP: Casa Editora O Clarim, 2012. 512p.

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